Café da manhã – como o brasileiro – não existe para os ganenses. Eles acordam, oram e só vão se alimentar lá pelas 10 horas. No desjejum, a equipe sacia a fome com oito dúzias de bananas, cinco quilos de uvas verdes e 40 maçãs. Lanche pra lá de saudável. Já na hora do almoço, a tradição de Gana é uma verdadeira goleada de sabores, com os molhos de vários tipos de pimentas realçando o frango ou o peixe.
Na gastronomia ganense a pimenta é a marca do tempero, e o gengibre e os peixes defumados são características em suas panelas. “Brasil é um país doce”, diz Mrs Alice Ayku Akoto, simpática chef da seleção de Gana.
Chef Alice é casada e há 10 anos comanda a cozinha escrete nacional ganês. Sorridente, ela conta que está feliz porque em Maceió tem tudo o que ela precisa e com qualidade. “Melancia e uva de sabor muito doce, banana, inhame, melancia, excelente!”, comenta, acrescentando que se apaixonou pelas frutas brasileiras
Os ganenses não apreciam carne vermelha e preferem a de cordeiro, já os pescados de água doce fazem a seleção feliz. Como os peixes defumados trazidos de Gana foram apreendidos pela alfândega em Salvador, o peixe tilápia, do nosso Rio São Francisco, nem precisou passar pelo banco de reserva. Foi direto pro time da cozinha.
A convite de mrs Alice, almocei o cardápio das estrelas negras. Comida simples: frango (temperado com alho e gengibre) e peixe no sal e gengibre (que, aliás, é bem usado para temperar). A pasta de pimenta acompanha a principal refeição dos ganenses.
Para fazer a pasta da pimenta a chef usa bastante cebola picadinha e, proporcionalmente, 20% do peso da cebola em alho e gengibre. Tudo bem picadinho, são acrescentas as pimentas malagueta e cayene, igualmente picadinhas (20% também da proporção da cebola), mais azeite de oliva. Frita-se até a mistura ganhar a cor preta. Alice usa ainda outro molho, o de tomate (base de extrato de tomate) apimentado. Os dois dão sabor às carnes.
Para acompanhar o prato principal vem uma espécie de massa, batizada de keykey, feita de milho. No primeiro momento pensei ser semelhante a nossa pamonha, mas era só na aparência, porque o gosto é um pouco azedo, e nem lembra o sabor do nosso milho.
Depois dos treinos, o que dá sustança é a sopa de tomate com pó de camarão defumado, vegetais e peixes. “Tomate ajuda na recuperação”, diz a chef.
Mas o rei da cozinha de Gana é o fufu feito com mandioca ou inhame triturados, para depois virar uma massa pegajosa. Para fazer esta massa é preciso ter muita força e essa tarefa fica a cargo da auxiliar da chef, Grace Nartey. Nos bastidores da cozinha do Hotel Radisson, onde os jogadores estão hospedados, falam que Grace – quando trabalha o fufu – tem a força de 10 homens.
Feito o fufu a ele se adiciona o caldo de manteiga de amendoim, mais o peixe, tomate e cebola. E nada de talher ou colher. Tradicionalmente come-se com as mãos.
Outro prato típico da seleção é o arroz jollof. O grão é refogado no alho, gengibre e cebola. Em seguida recebe extrato de tomate, curry, manteiga, vegetais, cenoura, repolho, feijão verde. Já o arroz branco, curiosamente, deve queimar no fundo da panela para ter seu real valor. Dizem até que os jogadores disputam os grãos negros com garra de decisão de campeonato.
Em resumo: a gastronomia de Gana é simples e apimentada, própria da África, que trouxe sua cultura e seus sabores para o Brasil há muitos séculos.
Consegui a entrevista com a chef Alice num dia de sol, durante o almoço preparado para a equipe de 80 africanos, dos quais 23 são jogadores. Para o sucesso desta entrevista, Fabio Cardim, gerente de Alimentos e Bebidas do Radisson, foi nosso fiel tradutor.
A gastronomia alagoana estreitou os laços com as estrelas negras de Gana. A chef não fugiu da rotina de cuidar da seleção, mas a equipe da cozinha, sob a batuta de Fábio, elaborou o purê de jerimum com camarões que agradou ao coração de Alice .
Presente da cozinha do Radisson para Alice, purê de abobora com camarões
O Radisson Maceió foi selecionado pela FIFA, por atender os requisitos, e hospeda a equipe de Gana desde 11 de junho até o dia 26. Fabio Cardim avisa que, apesar dos visitantes ilustres, o restaurante do Radisson continua funcionando normalmente e sábado é dia de feijoada.
E, quem sabe, a equipe do Radisson venha a preparar a pasta de pimenta negra para a feijoada de vitória da seleção brasileira, afinal, apimentar a torcida faz muito bem.
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13 comentários
sidney wanderley
10 anos Atrás
Nide, passada esta Copa (que está uma delícia), proponho
uma invasão ao restaurante Trapiá, no Tangil, zona rural de Viçosa. Sugiro calorosamente a sutilíssima linguiça calabresa com caninha, o piano (assado de porco) e o cordeiro da Patagônia ao molho de vinho tinto. O chef é o simpático e erudito em gastronomia, Elias Vasconcelos. O bucolismo do lugar e a delicadeza da comida por certo a cativarão.
Forte abraço do Sidney
Nide Lins
10 anos Atrás
AUTORSidney esta nos meus planos e vou anotar suas dicas, mas soube que é preciso marcar. vou lá sim. grata
João Gomes da Rocha
10 anos Atrás
Redundante e racista o termo, estrelas negras, poderia ser estrelas de Gana, desculpe, obrigado…
Nide Lins
10 anos Atrás
AUTORBom dia João, não precisa se desculpar, cada um tem sua opinão. grata nide lins
Patrícia Barros
10 anos Atrás
Nide, muito bom!
Geraldo de Majella
10 anos Atrás
Nilde, parabéns pela postagem e por nos informar sobre a alimentação da seleção de Gana.
tania
10 anos Atrás
Estrelas negras…..muito bom, real, sem racismo…eles brilham com sua negritude…
Júlia
10 anos Atrás
Muito legal a matéria! A comida parece estar deliciosa!
Só uma observação ao amigo João: a frase “Estrelas Negras” ou “Black Stars” é a denominação oficial da seleção de Ghana. O termo surgiu na própria África, em pleno auge do time nos campeonatos africanos, em uma alusão à estrela presente em sua bandeira. Então, não é um termo criado por nós e muito menos considerado racista.
Abraços!
Afranio
10 anos Atrás
Parabéns Nide Lins por mostrar um pouco sobre a cultura de Gana!!!
João Neto
10 anos Atrás
Ótimo post, bateu aquela vontade de experimentar a culinária ganense.
João Gomes da Rocha
10 anos Atrás
Obrigado Julia pela informação…para a querida Nide meus parabéns por seu trabalho maravilhoso sempre. Ressaltando me referi a frase e não a seu trabalho, suas matérias são de grande valor, abraços a todos…
MÁRCIO JOSÉ
10 anos Atrás
QUERIDA NIDE . SOU ASSÍDUO VISITANTE DE SEU BLOG E HÁ MUITO TEMPO VEJO TODAS AS SUAS PUBLICAÇÕES E APROVEITANDO A OCASIÃO DOS TREINOS DA SELEÇÃO DE GANA NO REI PELÉ, GOSTARIA DE CONVIDÁ-LA , SE POSSÍVEL, A CONHECER A TAPIOCA TRADICIONAL DO “GALEGO” E O CAFÉ DO “IRMÃO” QUE SÃO AMBULANTES SIMPLES MAS MUITO HIGIÊNICOS COM SEUS PRODUTOS.
A TAPIOCA TRADICIONAL DO GALEGO TEM UMA MASSA SINGULAR. AQUI EM ALAGOAS NÃO HÁ MELHOR. JÁ O “IRMÃO” VENDE MUNGUZÁ, PÃES E SUCOS QUE SÃO VENDIDOS A FUNCIONÁRIOS DO HGE, TAXISTAS E COMERCIANTES DAQUELA REDONDEZA. ASSIM COMO O CALDINHO DO TONHO, GOSTARIA QUE VOCÊ DESSE UMA PASSADINHA POR LÁ . MEU E MAIL : [email protected]
Nide Lins
10 anos Atrás
AUTORmarcio grata por acessar o blog e tenho maior interesse em conhecer suas dicas. abraços