“Esta ciranda quem me deu foi Lia,
que mora na Ilha de Itamaracá”
A canção de Maria Madalena Correia do Nascimento, Lia de Itamaracá, nunca saiu do meu imaginário.
E, da ciranda da Lia, surgiu o desejo de conhecer a ilha da cirandeira pernambucana, um dia batizada como “diva da música negra” pelo The New York Times.
Mas a ilha pernambucana apresenta outras estrelas, como o camarão crocante de seu Antônio Francisco, famoso Barriga. Confesso: nunca comi igual.
Como amo viajar, segui os passos do guia Vagner Oliveira. Ele promove os roteiros que fogem do trivial, investindo nos sabores da cultura e da gastronomia, a exemplo da modesta barraca de seu Barriga e seu camarão crocante. De todos crustáceos que já saboreei nas minhas andanças (e não são poucas), pela primeira vez encontrei algo realmente diferente… Aquela casquinha do bichinho não é inconveniente, desmancha no céu da boca. Incrível.
E não tem segredo, embora, por segurança, o chef não diz a quantidade dos ingredientes. Para a casquinha do camarão derreter ao encontro do palato, o crustáceo é envolvido numa mistura criada pelo mestre pernambucano.
Seu Barriga mistura farinha de trigo, açúcar, mel de abelha e limão; coloca tudo numa enorme bacia de alumínio bem areada; e, antes do camarão se lambuzar no tacho, leva um belo banho de cerveja.
Depois de mexer bem os ingredientes, ele joga os camarões no óleo quente (só usa duas vezes). Para acompanhar? Molho de mostarda, bem inusitado.
Há 20 anos o camarão crocante de seu Barriga é sucesso nas paradas da Ilha de Itamaracá, éden de praias serenas. E mais: ele prepara uma senhora sardinha usando a mesma receita.
Resumo: seu Barriga é simples, agrega valor com cerveja gelada, praia, sol e boa comida de boteco.
Orange
Depois do banho de mar, e de barriga cheia, o passo seguinte é conhecer o sabor da história dos holandeses, através do Forte Orange.
A fortaleza foi construída por volta de 1630, pelos holandeses a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, e passou por diversas mudanças em sua estrutura desde a reconquista portuguesa em 1654.
Tombado pelo Instituto Histórico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o Forte Orange é um dos testemunhos da guerra entre holandeses e portugueses no Nordeste colonial. Está atualmente passando por outro restauro, mas é aberto a visitação.
Villa
Na Ilha Itamaracá vale a pena, e muito, visitar o povoado Vila Velha com sua histórica Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e um mirante com vista espetacular. Na estrada que dá acesso à vila é possível encontrar trechos de Mata Atlântica, inclusive com espécies de grande porte, como é o caso do (árvore-símbolo de Alagoas) .
Da vila também se avista a Coroa do Avião, de onde saem os passeios de barcos pelos manguezais.
No retorno para Recife emana o aroma do açúcar das ruinas do Engenho São João. Construído em 1747, possui a primeira moenda a vapor do Brasil. Pertenceu ao Conselheiro João Alfredo (redator da lei Áurea) e é um ícone, bem preservado, do apogeu da economia da cana-de-açúcar em Pernambuco. Foi cenário de filmes e seriados.
Ilha de Itamaracá, um lugar para viajar…
Roteiro da Ilha de Itamaracá
A Ilha de Itamaracá fica a 50 km de Recife;
O guia Vagner Oliveira faz roteiros diferenciados, como gastronomia popular, cultura e turismo pedagógico. Mais informações: (81)8851.3513
Custo: a partir de R$ 65,00 por pessoa, no mínimo de quatro pessoas, sem incluir a alimentação;
O camarão crocante de seu Barriga (porção de 1 kg) custa R$ 50,00 – e só a dinheiro vivo, pois cartões não são aceitos no bar do mestre.
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2 comentários
Bruno Medeiros
10 anos Atrás
Já fui diversas vezes a Itamaracá e pretendo ir outras vezes mais. A Praia do Forte é um espetáculo da natureza e as barracas servem muito bem, além do passeio de barco à Coroa do Avião.
Bela matéria.
Júlia
10 anos Atrás
Água na boca!! Pena que não é aqui