Minha mãe, dona Nia, não deixava ninguém nem chegar perto da pia de lavar pratos, o que, claro, eu adorava! Ela me advertia: “Estude, se forme, minha filha, para ser independente”. Melhor receita que minha mãe me ensinou, mas eu ficava de butuca, olhando dona Nia, Nizinha (para os amigos), preparar o doce de caju de calda para comer com queijo do reino nas festas natalinas, arroz doce no São João, o bife de panela, que tinha o pão francês para melar na graxa da carne, a sobremesa de rodela de inhame com mel de engenho e, na semana santa, o sagrado o caruru servido com bolinho de arroz, o melhor de todos.
As receitas de dona Nia não tinham medida, era dom da gastronomia popular, do saber e do fazer no dia a dia, da memória que nunca falhou. Lá se vão 12 anos sem dona Nia, e depois de muitas tentativas, certa feita acertei a receita e liguei para meus irmãos Enio e Elcio, apenas para comunicar: “Fiz o caruru da mãe, deu certo, mas comi todo”. A saudade era tanta que cometi o pecado da gula.
No dia dedicado às mães, compartilho o Caruru de dona Nia, que não leva leite de coco, nem amendoim e nem castanha, embora da Bahia tenha o dendê, mas tem duas coisas que só existem na receita da minha mãe: a farinha da cabeça de camarão e o bolinho de arroz cozido. Muito importante: não é para tirar a “baba” do quiabo.
E assim, em nome da minha mãe dona Nia, homenageio todas as mães que deram a vida pelos filhos, em especial, na gastronomia.
Ingredientes:
1 quilo de camarão com casca
50 quiabos
5 colheres de sopa de dendê
2 xícaras de arroz branco
Sal a gosto
Como fazer:
Quiabo
Cozinhe o quiabo na água (cobrindo o quiabo) e deixe separado.
Camarão
Eu sigo a tradição. Compro o camarão com casca e coloco na panela com pouco de sal, até mudar de cor. Quando ficar vermelho, apague o fogo e deixe esfriar.
Farinha de camarão
Separa as cabeças e coloque para assar no forno (até ficar sequinho). Depois triture bem até ficar na textura de farinha, e peneire e misture com uma colher de sopa de farinha de mandioca.
Misture tudo
Pegue o quiabo cozido, adicione o azeite de dendê, em seguida a farinha de cabeça de camarão sem casca, mexa bem e, por último. acrescente os camarões. Acerte o sal. O azeite de dendê, se achar pouco ao seu paladar, adicione mais.
Bolinho de arroz
Cozinhe o arroz na água estilo “unido venceremos”, uma papa. Esfrie e faça os bolinhos. Coloque o caruru nas cumbucas, adicione os bolinhos e bom apetite.
Detalhes
Minha mãe só usava camarão da água doce, mas como hoje é tão raro, use o barba roxa ou vila franca. Eu ganhei camarões de cativeiro do Rio São Francisco (vende em Maceió por encomenda), testei na receita, e adorei o resultado.
Como não sou chef de cozinha, não tem ficha técnica, escrevi a receita do jeito que faço. Se engrossar pode adicionar mais água.
No mais, bom apetite. Feliz Dia das Mães, todos os dias.
Qualquer dúvida envie mensagem pelo blog/@nidelins/[email protected]/ Zap (82)99121.6597.
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4 comentários
fatima torres
8 anos Atrás
Amei o caruru desta receita tão linda que é puro sentimento ,gosto de saudade,gosto de mãe . Deu vontade de comer,deu vontade de chorar,gratidao a você por esta partilha
Anthony
8 anos Atrás
Linda homenagem…sem ranço de tristeza…apenas a infinita saudade. Adoro e também faço um Caruru maravilhoso…mas o da Dona Nia, dá pra sentir o cheirinho daqui…Bjs de um leitor assíduo…
Nide Lins
8 anos Atrás
AUTORGrata Anthony pelo carinho
Silvana CHamusca
8 anos Atrás
Lindo. Nossas eternas mestras na cozinha, a melhor delas, a cozinha de mãe.