Viçosa, terra do Menestrel das Alagoas, o senador da anistia Teotônio Vilela, é uma cidade graciosa, considerada o berço da cultura com seu pastoril, reisado, guerreiro, e até uma banda de pífano feminina que eu já tive o privilégio de apreciar, junto a essas manifestações culturais, que jamais esqueci da beleza folclórica desta cidade.
Mas a cultura gastronômica está em voga em Viçosa. Há cerca de quatro anos, o senhor de cabelos brancos e de voz rouca, Elias Vasconcelos, filho da terra, transformou o destino alagoano em roteiro da gastronomia com o seu restaurante Trapiá, no povoado Tangil. Da sua cozinha saem maravilhas, desde a salada de 16 itens, a mais cobiçada da cidade, à costela de boi batizada de Janela, que derrete no céu da boca.
A Janela, eu diria, é escancarada de sabores e, na minha opinião, é de bom tamanho para três pessoas, até porque em Trapiá já começamos petiscando a linguiça da casa. Esta iguaria suína é fabricação do açougue da cidade, mas Elias incrementou a receita para cativar ainda mais seus fieis clientes.
Antes de adentrar pela casa e o sitio, onde está instalada a cozinha do Elias, alguns lembretes: no recinto não tem cardápio e só atende com reservas. “Faço tudo, da buchada de galinha até as carnes grelhadas, mas tem que ligar para fazer reserva, porque alguns ingredientes adquiro em outras cidades”, avisa o proprietário.
Dito o recado, sigam minhas dicas:
Janela – A costela de boi (600 gramas) é das melhores que já comi pelas minhas andanças em Alagoas. A danada chega à mesa bem dourada e com uma capa de gordura que faz a gente suspirar . E o próprio chef Elias faz questão de cortar a iguaria com sua faca amoladíssima. “Só eu sei cortar a costela”, diz o alagoano ironizando, porque a carne se desmancha só com a ponta da faca. Ela se abre como uma janela. Carne suculenta e com camadas de gorduras como fossem manteiga derretida. “É muito amor“, segundo Elias. A costela passa pelo processo de seis a oito processos até ela ficar pra lá de macia.
Segredo – A salada Trapiá é a estrela da casa e tem três versões: pequena, média e grande. São 16 ingredientes, entre eles farofinha de torrada de pão no azeite, mostarda, mel, tomate seco, queijo, vinagre balsâmico… Mas Elias guarda em segredo todos ingredientes da iguaria mais amada em Alagoas. Eu, confesso, nem provei o feijão e muito menos o arroz, porque a salada é maravilhosa para acompanhar as carnes grelhadas.
Piano – A costela de porco (600 gramas) é batizada de piano pelo próprio Elias, por conta do desenho do corte da carne suína que lembra o instrumento musical. Também vem com uma super camada de gordura que garante a felicidade ao nosso paladar, é suculenta e desfia com apenas com garfo, de tão macia. Segundo ele, são 36 horas no forno. Ela é temperada com ervas, pimenta rosa e outros ingredientes do chef.
Doce – De sobremesa, amei o doce de laranja, aquele que é feito em casa com a fruta do quintal. Comer este manjar é viver o sabor da infância.
Quem é? Elias Vilela de Vasconcelos, nasceu em Viçosa e descobriu a cozinha por conta de uma paixão da adolescência. “Fiz o curso de culinária com minha irmã Silvia (falecida), uma dama da gastronomia de Viçosa, mas queria mesmo era paquerar. Aos 16 anos fiz o meu primeiro pirão de cozido, que foi um horror“, revela o aposentado do Banco do Brasil.
Elias não desistiu, mesmo com o zero para o pirão. Mas foi no Rio grande do sul que aprendeu a cozinhar de verdade. E assim o bom alagoano fez o seu reinado na cozinha do Trapiá. Entre os livros, ele aprimora seus conhecimentos culinários e vai adicionando mais tempero às panelas.
No mais, o restaurante Trapiá é um dos motivos para visitar e ficar uns tempos na bela Viçosa do Mestre Ozório e Sebastião Guerreiro.
Rota do Trapiá
Preço da costela bovina – a partir de R$ 80,00 (para duas pessoas, mas acho que dá para três) – Aceita-se cartões. Só atende com reserva
Funciona aos sábados e domingos das 11h até às 15h
Povoado Tangil, Viçosa, Alagoas – Telefone: (82) 99625-4848 (82) 3283-1123
@restaurantetrapiavicosaalagoas
Visits: 28
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6 comentários
Rafael
7 anos Atrás
Nide, na verdade janela é o nome do corte, aqui em Alagoas como não se tem muito o hábito de comer costela, a maioria não sabe o nome dos cortes.
No Sul do país a janela é o nome dado ao corte da costela retirada do centro da peça, é a melhor parte da costela e mais macia, tem também a costela minga, ponta de peitoe e ripa da chuleta.
Esses são os 4 cortes mais famosos la no RS.
Também tenho restaurante e os fornecedores já vendem esse corte por aqui.
MARCOS VINICIUS
7 anos Atrás
parabéns Rafael pelos esclarecimentos
O
7 anos Atrás
Nide, vi o comentário do Sr. RAFAEL, também proprietário de restaurante, confesso, que embora tenha passado algum tempo (05 anos) no RS, sinceramente, desconhecia o corte com o nome de “JANELA”. Mas, o que importa mesmo é sua opinião. Portanto estou lisonjeado por ter recebido sua visita e, principalmente, seu comentário. OBRIGADO… muito OBRIGADO.
Nide Lins
7 anos Atrás
AUTORElias, janela representa tanta coisa, vamos abrir pro mundo conhecer Viçosa e seus sabores. Eu que agradeço sua atenção e carinho. Bjs
sidney wanderley
7 anos Atrás
Nide: semana passada, eu e o Juarez Cavalcanti, que estamos a trabalhar num livro sobre a feira de Viçosa, estivemos, mais uma vez, no Trapiá do Mestre Elias. Saboreamos o camarão da casa, um dos pontos culminantes, embora pouco divulgado, da gastronomia do Trapiá. De início, a calabresa sutil e refinada. Ao final, doces de figo e de laranja. Foi a décima quinta vez que fui ao Trapiá e, como sempre, a comida mostrou-se irrepreensível. Vida longa ao chef Elias e seu restaurante.
Nide Lins
7 anos Atrás
AUTORSidney, concordo com vc e já estou curiosa sobre o livro da feira de Viçosa. Abraços