A coroa-de-frade, no Sertão, tem uma simbologia forte: colocada no muro das casas, dizem que afastam o mal olhado. Pois bem, esta planta lindinha da caatinga também ganhou sua versão doce pelo confeiteiro Juan Mello, da Ruca Confeitaria. A coroa-de -frade tem uma casquinha de chocolate branco pintada de verde e espinhos que são pontinhos doces. O macaron por cima faz a vez da coroa. A sobremesa encantou não apenas pela apresentação impecável, mas também pelo recheio de mousse de palma, geleia de xique-xique e crocante de castanha de caju. Juan trouxe as boas lembranças doces da caatinga.
A caatinga tem sua doçura. Símbolo da resistência do nordestino, é capaz também de transformar em cozinha sustentável, vide a coroa de frade do Juan. Comer cactos ainda parece estranho, exótico, invenção… Mas o Jantar “Cozinha que Transforma”, no último dia 25 de abril, além do confeiteiro Juan, 13 chefs alagoanos e baianos mostraram que a nova tendência gastrotinga, liderada pelo chef Timoteo Domingos, é presente e futuro na mesa brasileira
A gastrontinga tem a proposta de sustentabilidade, fazer com que os produtores sertanejos possam cultivar as plantas da caatinga para atender o mercado de bares, restaurantes e, até mesmo, a cozinha de todos nós.
No jantar, os chefs criaram receitas com ingrediente da caatinga. Algumas receitas ainda são tímidas com o uso do cacto, o que acho normal, porque é novo. Agora, uma coisa é certa, foi o jantar mais nordestino que já comi da minha vida. Teve bode, cordeiro, cuscuz, siri, coco, mel… E mais jantares da “Cozinna que transforma” que vão acontecer pelo Brasil afora.
Veja o cardápio de cactos
Até no Japão – Roger Lima fez bonito e saboroso com o xique-xique grelhado com molho missô, cogumelos (frescos, são cultivados em Alagoas) e quinoa crocante. O cacto tem sabor neutro, e casou muito bem com os temperos japoneses. Uma grata surpresa, até porque o chef Roger do Hatsu pretende adicionar a receita ao cardápio da casa.
Drinque – Edgar Amorim, do Boteco Generoso, fez vários drinques com ingredientes da caatinga. O que mais apreciei foi o de cachaça Divininha com geleia de mandacaru com gin tônica, super refrescante.
Dupla – A alagoana chef Cícera Silva do Morea Beach Club e o baiano Luciano Morreira criaram a mouseline de batata roxa com filé de aratu (espetáculo), vinagrete de xique-xique e macaxeira chip.
Divina – Ora-pro-nóbis é uma erva muito usada na culinária mineira. Contudo, a folha é da família da caatinga, riquíssima em ferro, e tem o mesmo valor nutricional da carne. O chef Vitrola, do Divina Gula, usou da erva no frango, farofa e molho. Fico bom demais.
Nordeste – O chef Antônio Mendes fez o mungunzá salgado misturado com carne de porco no rôti (molho) de rapadura, picles de cebola, rabanete, maionese de páprica defumada, picles de maxixe e farofa de amendoim.
Serginho Jucá – O polvo grelhado, e super macio, ganhou o molho de xique-xique. O chef do Sur refogou a planta com cebola, depois adicionou açúcar e vinagre de arroz. Ficou supimpa.
Rodrigo Aragão – A língua mais famosa do chef da Ôxe e da Lali, para chegar à mesa é bem limpa, escaldada, cozida e depois frita no caldo de carne, para o jantar ganhou picles de xique-xique e chá de alecrim. Resultado: carne macia, bem temperada, e quem nunca comeu se apaixona e põe fim ao preconceito.
Clodomiro Tavares – O chef paulista, residente de Paulo Afonso, teve a apresentação mais instigante. O charque de cordeiro chegou escoltado pelo time nordestino de farofa de cuscuz com linguiça de cordeiro, cubos de queijo coalho com geleia xique-xique e uma seringa de mel para dar a doçura ao charque de cordeiro.
Tortelete – A dupla Sandy Farias (Le Brulé) e Paulo Quintela (Aratu) apostaram no doce tortelete com creme de coco verde, uburama de cheiro, nativa do Sertão, foi a estrela do prato e farofa de coco queimado. Gostei bastante do casamento do coco e a semente do Sertão que deixou o doce perfumado.
O jantar com o tema “Cozinha que transforma” do Instituto Gastrotinga vai acontecer pelo Brasil afora, visando obter fundos para a Construção da Escola de Arte e Cultura Alimentar da Caatinga. O intuito da escola na região dos Cânions do Rio São Francisco é fomentar o cultivo e a comercialização de plantas comestíveis nativas de forma sustentável.
Veja quem abraçou o projeto da gastrotinga: Sebrae Alagoas, Divina Gula, Caatinga Rocks, Traz A Conta, Hotel Confort, Uninassau, Fusion, Pedra do Sino Hotel.
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2 comentários
Dermival Pinheiro
5 anos Atrás
É muita invenção.
Nide Lins
5 anos Atrás
AUTORÉ muita Invenção boa, e tá gerando renda para o povo sertanejo. Prove a geleia de xique-xique, em vez de achar invenção sem provar. Grata pela leitura abraço, Dermival