No ano de 1977, José Jesuíno de Oliveira, alagoano de São Luiz de Quitunde, comerciário, juntou seu único bem material, um carro Brasília, com mais três promissórias e comprou um bar de um amigo, o professor José Augusto. O estabelecimento em questão funcionava no andar térreo de um prédio sisudo, sem atrativos, onde funcionava a pensão Monalisa – pensionato familiar. O imóvel ainda hoje está de pé na esquina das ruas Augusta (das Árvores) e Cincinato Pinto, mas sem mais abrigar nem o bar nem a pensão.
O modesto empreendimento foi batizado de “Bar e Restaurante do Duda”, apelido de Jesuíno, e logo o lugar caiu nas graças de intelectuais, advogados, jornalistas, policiais da Delegacia de Plantão e/ou Primeira Delegacia e de muita gente anônima que não resistia, dentre outros quitutes, à buchada preparada pela bem-amada do Duda, Marinaura.
E assim, lá se vão 43 anos de histórias em mais dois sucessivos endereços: Rua Barão de Penedo, no Centro, e – atualmente – Rua José Luiz Calazans, Jatiúca. Para tristeza dos fãs, neste domingo, 20, o Bar e Restaurante do Duda encerra suas atividades, mas sem adeus e com até em breve, porque o casal sonha em abrir o Caldinho do Duda, no Centro, onde tudo começou.
O Bar e Restaurante do Duda encerra hoje suas atividades não pela crise econômica brasileira, mas porque o terreno do restaurante, como também o do vizinho, a Feijoada do Chico, foram incorporados e vão virar arranha-céu. E haja saudade da freguesia fiel que durante quatro décadas foi feliz com as comidinhas preparadas pela Marinalva e a simpatia do Duda.
Duda, com 84, e Marinaura com 82 anos, também vivem os dois sentimentos, tristeza (pelo encerramento do bar) e alegria (fecharam um bom negócio), vão curtir melhor os dois filhos, quatro netos, duas bisnetas na casinha em Barra de Santo Antônio. Curtirão também a saudade dos clientes, pois todos viraram amigos.
Eterno – Duda foi balconista de lojas de tecidos e roupas, também possuiu uma banca de cereais no Mercado da Produção. Já Marinaura adorava sua profissão de auxiliar de enfermagem, mas foi o bar que trouxe realização profissional e felicidade ao casal que se conheceu num grito de carnaval há 52 carnavais.
Eu sou apaixonada pelo Bife de Panela da Marinaura, inclusive a fórmula mágica está no meu livro “Receitas das Alagoas, Cozinhas de Boteco, de Chef, de Rua e Tradição”, publicado pela editora Graciliano Ramos.
Na cozinha da Marinaura, desde 1978, o carneiro guisado é o tal – não perde a majestade, sempre primoroso. Carne macia, desfiando fácil do osso, molho espesso, batatas inglesas e cominho (tônica do Nordeste). Nesse prato o segredo da Marinaura está em juntar a hortelã da folha grande e pimenta do reino com a essência da carne. “Só trabalho com a parte do coxão”, reforça Duda. Para acompanhar feijão caseiro (sou fã) ou tropeiro, arroz e farofinha. Deixo aqui só mais esse exemplo das iguarias do Bar do Duda.
Mas o Bar do Duda, não tem adeus, estará presente na nossa memória afetiva. Felicidades ao querido casal; e, claro, quando o Caldinho do Duda abrir suas portas no Centro, vamos todos matar a saudade.
Saúde para Duda e Marinaura, onde o amor de carnaval não é fantasia.
Bar e Restaurante do Duda: Rua José Luiz Calazans 177 – Jatiúca – (Próximo ao hotel Marinas) – Telefone: (82) 3231-0877.
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8 comentários
Stanley
3 anos Atrás
Parabéns pela matéria, Nide. Graças ao Duda&Marinaura muitas amizades fortes foram ali formadas, muitas idéias brilhantes trocadas e muitas discussões politicas importantes foram travadas, ao sabor da cerveja gelada e tiragostos trazidos através das cinco longas portas duplas de madeira da esquina da rua do Macena, com a Augusta. Tudo isso com a simpatia sentada na mesa com o Duda e muito longe das picuinhas , fofocas e paredões dos bares e restaurantes atuais. Nossa geração abraça e agradece ao Duda e Marinalva !!!!
Franciele
3 anos Atrás
É verdade. A tradição aquece o coração, os jovens estão se perdendo na ostentação e nas aparências. Quem aprecia uma boa comida, um lugar aconchegante e boas conversas, esse sim é feliz!
Palavras lindas da Nide, transparece com dignidade o respeito e o carinho por essas pessoas lindas.
Marcos César Sampaio de Araújo
3 anos Atrás
Casal maravilhoso. A Dobradinha é a melhor que já provamos e a Feijoada era única no sabor. Vai deixar saudades, mas espero que o Caldinho no Centro siga o caminho do sucesso. Esperar apenas passar essa pandemia. Parabéns pela matéria, Nide.
Nailza
3 anos Atrás
Marinaura e Duda, vocês sabem quanta falta vão fazer não só pela excelência da comida como pelo acolhimento que não tem igual em nenhum restaurante. Sem falar no encontro com amigos de longas datas que vocês reuniam.
Agora me diga onde tem aquele torresmo e aquele mocotó?
Mas só desejo boa sorte no novo negócio, que pretendo acompanhar vocês. Grande abraço.
Josemar Justo
3 anos Atrás
É sempre um imenso prazer ler suas matérias e histórias aqui, muitos lugares em Alagoas passei a conhecer através da sua indicação. É uma triste notícia, e ao mesmo tempo uma grande satisfação, de uma grande história de amor amizade e de muita água na boca. Ficará em nossas memórias e em nosso paladares, mas não vamos desanimar não, teremos o caldinho que com toda certeza será uma delícia, nos mais, agradecemos por disseminar a cultura a história, o sabor de nossa Alagoas. Uma grande abraço. E ja ia esquecendo, onde encontro seu livro, “Receitas das Alagoas, Cozinhas de Boteco, de Chef, de Rua e Tradição”?
osvaldo pedreira
3 anos Atrás
A feijoada era uma coisa incomparável, foi o primeiro prato que conheci, sem contar com o aconchego que era passado pelo Sr. DUDA e D. Marinalva, mais é vida que segue um forte abraço e sucesso em sua nova caminhada.
Eduardo Moraes Maia Filho
3 anos Atrás
Lugar onde sempre fui muito bem tratado e até mimado as vezes. Casal muito bacana, Sr. Duda e Dona Marinaura. Boas lembranças ficarão.
Abraços ao Casal 💐🍻
Eduardo Maia.
Cicero Romão de Araújo
3 anos Atrás
É uma honra ter participado desta culinária; na época em que o bar do Sr. DUDA ERA : entre à Rua da alegria e Br. De Penedo . E que voltou novamente para suas antigas origens no Centro de nossa capital. Tive o prazer de conhecer um de seus filhos que tinha uma lanchonete vizinha à antiga loteca do Boza, hoje está com estacionamento de motos..