Na Rua da Soledade, na Ponta Grossa, um bar simples, nas décadas 70/80/90, tinha uma espécie de altar com a imagem do “Padin Ciço”. E, ladeando o “Santo do Nordeste”, dois retratos de políticos alagoanos: Divaldo Suruagy (Arena) e Djalma Falcão (MPB), à direta e à esquerda, nem tão respectivamente assim. Mas o que despertava mesmo meu olhar eram as mulheres negras nos fogões de lenha mexendo os panelões com molho de tomate, com galinha ao molho pardo… Também achava linda a habilidade das cozinheiras em jogar o macarrão para cima e cair certinho nas urupemas (peneiras) de palha, numa dança gastronômica.
Pois bem, são lembranças dos meus 17/18 anos. Assistia com olhar da gula o espetáculo da famosa Macarronada do Edson. Contava as horas para o macarrão com o suculento molho de tomate chegar à mesa na companhia de uma galinha cabidela. Era só felicidade! Os pratos eram bem servidos dava para partilhar com os meus colegas do movimento estudantil.
Embora, numa reportagem da Revista Última Palavra, de 16 de setembro de 1988, republicada do blog do jornalista Edberto Ticianelli (também freguês do Edson) conta-se que o Márcio Canuto, colega famoso de profissão, devorou três macarronadas completas, acompanhadas cada uma com galinha ao molho pardo, leitão e camarão, as especialidades da casa. Um dos muitos visitantes famosos daquele endereço, o cartunista Chico Caruso (O Globo e TV Globo) fez questão de presentear o dono da casa com uma caricatura feita na hora, num guardanapo, desenhando entre os pratos de macarrão.
Macarronada do Edson era nossa estrela da gula alagoana, um lugar que abrigava todas as ideologias, classes, tudo na santa paz para devorar as delicias da casa. O empreendimento infelizmente fechou, logo após o inesperado suicídio do Edson, há mais de 20 anos. Mas o seu filho de coração, Fernando Elias Gomes dos Santos, o famoso Fernandinho, uma espécie de relações publicas do recinto, herdou o saber e fazer da macarronada. O bom garoto que jogava no CSA ficava de butuca vendo como a cozinheira “chef” Dolores preparava as delícias.
Fernandinho agora é “Chef vai à sua casa”, ou seja, é só contratar o bom rapaz para saborear os manjares da macarronada do Edson, dentre os quais se destacam: galinha ao molho pardo, camarão (ao molho ou à francesa) e pernil. Ele conta com o auxilio precioso da Ciçinha, filha da saudosa Lourdes, cozinheira-chefe do Buraco da Zefa (infelizmente não conheci).
A Zefinha teve uma história de amor com o Edson, mas, na separação do casal, as cozinheiras optaram por continuar com ele como patrão, entre elas Dolores. Noutra reportagem da Última Palavra, de 8 de abril de 1988, está escrito: “Dona Zefa deu a volta por cima. Hoje, para se ter uma ideia do vigor da velha bodegueira, mãe de santo, com Xangô de santo forte, ela acaba de chegar do Carnaval de Olinda, de onde só voltou depois que saiu no bloco do seu amigo Batata, conhecido carnavalesco pernambucano”.
Edson Aquino Vera Cruz não foi exemplo de marido, dizem. Mas como pai do “Fernandinho”, fez o dever de casa. “Tenho ótimas lembranças do Edson, foi um verdadeiro pai, adorava sair para jantar comigo na Toca, Bar das Ostras. Mas no final ficou esquecido, entrou em depressão, e morreu de amor, a última esposa o deixou”, revela Fernandinho, que é do CSA enquanto Edson era do CRB.
Os segredos da macarronada do Edson, claro, não vou contar, mas todos os ingredientes podem ser encontrados do mercado da Produção. Na época o macarrão não tinha nem marca, era o de saquinho plástico e o molho é de extrato tomate, tudo muito simples e glorioso de sabor. Fernandinho e Cicinha são herdeiros dessa história da gastronomia alagoana que alimentou e continua alimento várias gerações.
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3 comentários
Giuseppe Gomes
7 anos Atrás
Água na boca e lágrimas nos olhos. Relembrar o amigo Edson, que nos recepcionava à porta (baixinha) do seu estabelecimento, sempre a cofiar o enorme bigode, era o início de um imenso prazer. O Fernandinho, lépido, a circular entre as poucas mesas, enquanto o “incenso” vindo do fogão à lenha por trás do tosco balcão, brindava o nosso olfato. Como músico – sempre após as noitadas – frequentei por muitos anos a Macarronada do Edson e para lá levei amigos que também se tornaram “habitués” e ficavam maravilhados com o fato de um lugar tão simples, ser frequentado por todas as classes indistintamente. Confesso que abri a matéria, na esperança de que o Fernandinho tivesse reaberto o ponto. Como resido em Pão de Açúcar, pensei imediatamente ir à Maceió para a reestréia. Quem sabe um dia…Parabéns, Neide Lins – matéria bem feita, dá até prá sentir o cheiro – por nos trazer tão boas lembranças
Nide Lins
7 anos Atrás
AUTORGiuseppe, lindo depoimento, na torcida para Fernandinho primeiro achar clientes, e quem sabe um investidor. Grata
Carlos Wagner Simões
7 anos Atrás
Muitas saudades da eterna Macarronada do Edson, saudades de meu querido pai que nos levava sempre lá, que Deus abençoe Fernandinho, grande azulino!