“Santo Antônio é casamenteiro; Santa Rita de Cássia dos casos impossíveis; Santa Edwiges dos Endividados; Santa Cecília dos músicos e poetas… Se você procurar, tem santo para toda causa e caso. Mas, santidade protetora dos boêmios não. Entretanto, quem viaja até Arapiraca sabe que existe um lugar sagrado, o Bar do Paulo. Para muitos fiéis, Paulo Lourenço da Silva é o anjo da noite e da boemia”. Trecho da minha reportagem publicada em 2008, no Caderno Dois, d’O Jornal, sobre o saudoso do Bar do Paulo, estabelecimento que brilhou nas noites arapiraquenses de 1973 a 2011.
Dizem que até Jesus, apareceu no Bar do Paulo, só que na pele do ator Murilo Rosa, que desempenhou o papel principal na Paixão de Cristo, encenada no Morro da Massaranduba, em Arapiraca. Na época, foi um reboliço. Mas todos nós fomos famosos, ao menos da nossa felicidade, no Bar do Paulo, comandado durante 39 anos por ele próprio sempre ao lado de sua amada Antônia, responsável pela cozinha do estabelecimento, de onde saiam as famosas bistecas de porco com legumes crus.
A noite era regada com muita cerveja gelada, conversas e, vez ou outra, artistas famosos marcavam presença no recinto, como Hermeto Pascoal, Quinteto Violado, Alceu Valença… esses astros não ofuscavam a estrela da noite: Paulo e sua vitrola sempre abastecida com o de melhor existente em termos de MPB, Rock, Jazz e Blues, fazendo nossas cabeças rodopiar.
Recentemente, Paulo recebeu uma homenagem da ONG Candeeiro Aceso no Baco Pub (espaço muito legal), em Arapiraca. O auge da noite foi o anúncio de que o Bar do Paulo vai voltar na versão de discotecagem, em eventos, sob a batuta dos três Paulos: pai, filho e neto.
Para prestigiar o Paulo, segui destino até Arapiraca para reviver os bons momentos do boteco mais cultural que Alagoas já teve. Além da música, as bistecas preparadas por Dona Antônia no Baco Pub estavam do mesmo jeito. Matei a saudade e retornei nostálgica com a carne suína frita, temperada no sal, com um pouco de cominho, macia e suculenta na medida certa. A salada que a acompanha, feita de cenouras, pimentão e beterrabas cruas, confesso que havia esquecido que existia. Mas continuam fazendo o casamento perfeito com o prato.
O Bar do Paulo fez a “cabeça” da minha geração, e de tantas outras, incentivando a consumir o melhor da música nacional e internacional nos idos dos anos 70, 80 e 90. Apelidado pela nova geração de o DJ do Agreste, foi eternizado no documentário de Regina Célia Barbosa.
Os convidados relembraram os tempos alegres vividos no bar. A poetisa Marta Eugênia falou como se sentia protegida no Bar do Paulo e das noites intermináveis até às sete da manhã. Nessa hora ele colocava na “radiola”: Luciana, Luciana / Sorriso de menina / Dos olhos de mar… Era o toque de recolher para a juventude dourada e o descanso do velho guerreiro.
Paulo, hoje com 85 anos, conserva um enorme patrimônio musical: cinco mil discos e 900 CDs. A história desse alagoano começou em São Paulo, quando, na juventude, foi acompanhar um tio doente. Por lá arrumou emprego de garçom numa boate e pizzaria. “Eu já gostava de vários cantores brasileiros, Nelson Rodrigues, Elis Regina, Ângela Maria… Mas não conhecia nada de música internacional. Lá passei a ouvir jazz, blues, e assim fui apurando o meu gosto musical”.
A vida de nordestino na pauliceia não era fácil, mas Paulo economizou um ano e comprou sua primeira vitrola em 1963. Sua grande paixão é Elis Regina. Ele tem a coleção inteira da cantora. “Elis é única, uma explosão”, e lá no Baco Pub, a voz da Diva se fez presente: “Não quero lhe falar/Meu grande amor/Das coisas que aprendi/Nos discos…”. E como aprendemos nos seus discos!
Bar do Paulo, para sempre, agora em eventos com os Paulos! E à sua disposição, basta fazer contato com eles.(82) 99801.2777 (Ivo) e Paulo Celso (82) 99641.6729
Baco Pub é dos meus
Logo na entrada do Baco Pub, uma ‘fotaço” do músico alagoano Hermeto Pascoal já mostra que o espaço gastronômico e etílico, é cultural. Recheado com cardápio de boa música e palco alternativo para as bandas do cenário de Arapiraca, nos dias 15 e 16 de setembro será uma boa oportunidade para conhecer o pub com o Festival com bandas da cidade.
O Baco Pub será palco do Festival Avenida do Futuro, com as bandas Gato Negro, Capona, Ítallo, Janu, Casa da Mata e Quiçaça. Segundo o jornalista, Breno Airan (também fã do Paulo) “Os grupos carregam influências distintas e bebem de fontes de uma juventude plena – há traços da soul, do blues, do reggae, da MPB, do samba rock, do jazz, do Nordeste”, revela Bruno integrante Casa da Mata.
No Baco Pub a cerveja é gelada e gente de todas gerações curte um dos espaços mais democráticos de Arapiraca. Com mesa de sinuca, fotografias e paredes cheias de referência ao universo musical, o lugar não pode deixar de ser visitado.
Destaque para identificação do banheiro feminino com a ilustração irreverente da Rê Bordosa, uma personagem humorística de histórias em quadrinhos criada pelo cartunista Angeli e que abrilhantou as páginas da extinta revista Chiclete com Banana. Rê é uma mulher de aproximadamente 40 anos, desbocada e desprovida de bom senso, cujas histórias giram em torno de suas manias e desejos.
Enfim, Baco Pub, por todos os bons motivos, integra meu roteiro cultural, como nas boas épocas do Bar do Paulo.
Avenida Gov. Luiz Cavalcante, perto do Levino’s Hall, no bairro Novo Horizonte/ Contato: 9.9917.7992 (Alex)
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3 comentários
Lucas Farias
7 anos Atrás
O Bar do Paulo é, em todos os sentidos, uma referência histórica, cultural e afetiva para várias gerações de arapiraquenses. Lembro-me com saudades da última vez em que lá estive e da simpatia contagiante do mestre Paulo, profundo conhecedor da boa música nacional e internacional. O Bar do Paulo sempre será um ícone daquilo que de melhor o povo arapiraquense pode conceber.
MARCOS VINICIUS
7 anos Atrás
ELE ERA O DONO DA TRUPI ZUPPI?
Nide Lins
7 anos Atrás
AUTORNão, Trupi Zuppi foi uma boate em Maceió. Bar do Paulo, boteco em Arapiraca