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Turismo

Navegar pelo Velho Chico é preciso

 

Logo de manhã cedo, na Pousada Solar dos Rodrigues, tem café quentinho, cuscuz, queijo, manteiga e pão fresquinho num aconchegante jardim. Para completar o deleite, o acompanhamento desse típico café da manhã regional é a incomparável vista do Rio São Francisco, contornando os morros verdinhos das chuvas que caem de leve entre julho e setembro na cidade de Piranhas. E esse cantinho do Sertão de Alagoas é destino perfeito para ficar ao sabor do vento e da vida interioriana, comer, dançar forró e navegar pelas lindezas do Opara, como os índios batizaram, carinhosamente, o nosso Velho Chico.

O Rio São Francisco e suas igrejas em Piranhas  (@thiagosampaiophoto)

Na varandinha do Solar dos Rodrigues, as recordações dos tempos de glória do Velho Chico são contadas pelo dono da casa que virou pousada, Celso Rodrigues, que foi prefeito de Piranhas. “Quando menino, eu viajava pelo Rio no Navio Comendador Peixoto. Era a melhor diversão! Não me conformo até hoje em terem deixado o navio afundar”, diz Rodrigues, com saudades da sua época de estudante, quando pegava o navio de Piranhas até Penedo para ir à escola. No restaurante da embarcação não faltavam surubim, lagosta e carne de sol do Cedro, vinda da cidade sergipana de Propriá. A embarcação ainda tinha banda de música para dançar embalar a paquera dos jovens.

Piranhas é uma bela cidade encravada no Sertão alagoano como uma lapinha. E logo na entrada, ladeira abaixo, se tem a mais bela visão do Rio São Francisco

Voltei a escrever sobre o rio São Francisco e suas cidades, que são antigas paixões de minha vida, porque nos dias 14 e 15 de setembro, fiz parte da comitiva do Governo do Estado, que desceu o Rio São Francisco de Piranhas até Penedo, em comemoração aos 200 anos de Alagoas e em Defesa do Velho Chico. Foram 15 horas de viagem admirando as cidades e seus povoados ribeirinhos, barcos, ilhas, fazendas, igrejinhas e restaurantes charmosos que integram a rota do Cangaço no lado sergipano.

O inicio da viagem pelo Rio São Francisco e a cidade de Piranhas

Quando os ribeirinhos dizem que o rio não é o mesmo, têm razão. A vazão do Velho Chico vive seu menor patamar histórico, abaixo dos 600 metros cúbicos por segundo. E testemunhei isso no trajeto. O navio Majestade não calhou nos bancos de areia porque o comandante, o sergipano Anselmo Menezes, conhece o rio desde menino, “Fui criado neste rio desde pequeno, quem nem peixe”, disse o experiente marinheiro.

Embarcação Majestade realiza viagens de Piranhas até a Foz do São Francisco em Piaçaubuçú

Tracei um roteiro cultural e gastronômico, lembrando que além da embarcação Majestade, que faz o percurso de Piranhas à Foz do Rio São Francisco (82. 99927.2929), outras embarcações menores também oferecem ótimos passeios.

Piranhas

Cidade de Piranhas é uma das estrelas do Rio São Francisco

A cidade de Piranhas é o principal cartão postal do Rio São Francisco, cidade histórica com muitos causos de Lampião. É lá que fica também a melhor oferta de leitos da região – flat, pousadas e hotéis charmosos com café regional. Recentemente conheci e gostei da Pousada O Canto, um casarão bem aconchegante, ideal para casal, lugar mais sossegado, logo depois da Estação de Trem. A pousada Solar dos Rodrigues tem uma bela vista de sua varanda para o rio, é mais simples e a tarifa econômica.

Grupo Xaxado Altemar Dutra com os turistas no centro histórico da cidade de Piranhas

Xaxado – A noite no centro histórico de Piranhas é festa, gente bonita, comida regional a japonesa. E o melhor, o show do Grupo Xaxado Altemar Dutra , todos vestidos de Lampião e Maria Bonita, colocando todo mundo para dançar. Imperdível.

Peixinho do Rio São Francisco

Com sol- Comer pitu, tucunaré e pilombeta nos barzinhos da orla. Visitar o Museu do Sertão na estação de trem e caminhar pela cidade histórica sem pressa

Bordando a mão: Boa Noite é feito manualmente pelas mulheres ribeirinhas

Navegar – Saindo do porto de Piranhas, é passear pelo Velho Chico rumo ao povoado de Entremontes , com casarios, igreja e o bordado Boa Noite das mulheres ribeirinhas. Do lado sergipano, tem dois parques temáticos sobre Lampião: Angicos e o Eco Parque do Cangaço, e ambas têm trilhas à Grota dos Angicos, lugar onde Lampião e Maria Bonita foram assassinados. Coma pitu e mergulhe no Velho Chico, lembrando: não ultrapasse a área demarcada pelas boias, pois têm muito redemoinhos.

O Cristo em Pão de Açúcar (@thiagosampaiophoto)

Pão de Açúcar

De Piranhas a Pão de Açúcar, é um dos trajetos mais graciosos do Velho Chico. Antes de avistar o morro e o Cristo Redentor, no Rio São Francisco majestoso, já se vê a Ilha do Ferro, lugar povoado de artistas populares. A parada é vital para quem ama esculturas, bancos, bordados  “Boa Noite” e bonecos  de tecido.

Ilha do Ferro, povoado de Pão de Açúcar é na realidade Ilha da arte

A Ilha do Ferro é um Museu ao céu aberto,  onde os ribeirinhos fazem do quintal o atelier e da porta de casa a vitrine de exposição da  arte popular. Esse pedacinho de paraíso sertanejo ficou famoso graças ao seu maior artista, Fernando Rodrigues, que, no auge de seus 70 anos, criou mesas, cadeiras e bancos rústicos aproveitando as formas orgânicas de troncos e raízes, colhidos no próprio povoado. Ele tinha o hábito de desafiar os seus amigos a fazer bancos e todos  os que aceitaram a provocação do mestre, viraram escultores de mão cheia,  continuando  o legado do  seu Fernando, depois de sua morte.

Obra de arte de Aberaldo da Ilha do Ferro para Galeria de Arte pelo Brasil a fora

O artista popular Aberaldo  construiu sua carreira com seus pássaros e bonecos (pequenos e gigantes), igualmente aproveitando as formas naturais dos troncos. Recentemente  tem uma selva de bichos de madeira. Além de escultor nato, sua casa virou pousada e restaurante, mas é preciso reservar vaga antes de ir.

Melhor quebra-queixo da região é feito pelo Zé Bobó, tradição de 20 anos

Na Ilha do Ferro tem lojinhas e um bar que vende o melhor quebra –queixo do povoado, feito com esmero pelo Zé Bobô. Perfeito.

Simplicidade: torresmo de peixe feito com couro da tilápia e pacu no Cristo Redentor, Pão de Açúcar

Em Pão de Açúcar, visite o  Cristo Redentor, aproveite para  saborear os  pitus, patrimônio do Rio São Francisco, no restaurante e  Churrascaria Cristo Redentor.  Mas antes invista no torresmo de couro de tilápia, impossível, comer apenas um.

Cidade de Traipu

Traipu

Em Traipu visite  o Museu Ambiental Casa do Velho Chico, um espaço educativo  sobre o Rio São Francisco. Uma iniciativa do bancário  aposentado Antônio Jackson, que povoou o museu com coleção de objetos que contam a história dos moradores da região – como um moedor de café da Serra da Canastra, um liquidificador à corda, uma máquina de lavar de madeira. E registra a história da navegação no rio, das canoas aos vapores.  Destaque para as carrancas esculturas em madeira, utilizadas como figuras de proa nas barcas do Rio São Francisco protegendo as embarcações.

Carranca do Museu Ambiental Casa do Velho Chico em  Traipu

Penedo

Do Rio São Francisco tem a mais bela imagem da cidade histórica de Penedo

A viagem pelo Rio São Francisco encerrou na noite do dia 14 de setembro e de lá seguimos pela estrada de até Porto Real do Colégio.  Logo cedo, claro, continuamos a romaria fluvial de barco até a cidade abençoada pelos anjos barrocos, Penedo.

Arte sacra do Museu Paço do Imperial

Chegamos em Penedo  em dia de festa estavam  celebrando a restauração do Theatro Sete de Setembro, inaugurado em  1884. Penedo é a cidade para jogar a âncora e se apaixonar, visitar as igrejas barrocas, os museus Paço Imperial,  Raimundo Marinho e a Casa de Penedo. Conhecer a feirinha da cidade com suas tradições, comer  jacaré no molho de coco e dendê, descascar os camarões do Velho Chico  sem cerimônias,  entregar-se  à caranguejada do Bar do Jorjão.  São muitas dicas em Penedo que o leitor encontra na reportagem “Penedo, Meu Amor”( http://blog.tnh1.com.br/nidelins/2016/04/15/penedo-meu-amor/)

Carranca do atelier do mestre Timmaia

Bom, como toda viagem ao Rio São Francisco navegue até a Foz do Rio Francisco, na cidade de Piaçabuçú.  Como  diz o velho Gonzagão: “O rio São Francisco/Vai bater no mei do mar…”

Rota pelo Rio São Francisco

Pousada O Cantão, um belo casarão

Piranhas

Pousada O Canto  -(82) 3686-3459/ Solar do  Rodrigues (82) 3686-1157

Associação de barqueiros (82) 98731.5492

Angicos: (82) 99638.0057

Cangaço Eco Parque: (79) 99998.1499

Celiotur: (82) 9604.4369

Espaço Angicos  também com trilha de Lampião

Ilha do Ferro

Casa para alugar: 99982.5610 (Maria Amélia)

Artesão André faz passeio de barco – (82) 3624.8025

Quebra- queixo do Bobô – (82)3624.8018 (por encomenda)

Pousada e almoço na casa do Aberaldo: 82 3624.8820

Povoado de Entremontes, Piranhas

Penedo

Hotel São Francisco – (82) 3551.2275/Mais dicas de Penedo no link: http://blog.tnh1.com.br/nidelins/2016/04/15/penedo-meu-amor/

O barquinho e do sabor de infância com o algodão doce de seu Elias, que vende a guloseima a bordo de seu barquinho pelo Velho Chico

 

Salve, Salve, Velho Chico.

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4 comentários
  • GILSEN DORVILLÉ
    7 anos Atrás

    EXCELENTE MATÉRIA, NIDE. PARABÉNS!

  • Luiz Gustavo
    7 anos Atrás

    Parabéns excelente matéria, com lindas passagens do velho chico. não entendi ainda e me pergunto sempre, fizeram a transposição do São Francisco, depois que o rio está agonizando….

  • Luciano
    7 anos Atrás

    Sertão maravilhoso, Muito orgulho desse lugar lindo e maravilhoso, mais uma vez , meus parabéns Nide por ter feito essa matéria honesta e sincera divulgando nossa culinária, arte e belas cidades do nosso sertão querido.

  • ORLANDO RAMOS DO NASCIMENTO JUNIOR
    7 anos Atrás

    Nide , suas matérias me dão um streeesss!!!!….kkkkkk;….só que …Não….parabéns mais uma vez …vc está nos pautando …a descobrir nossa terra e nossos sabores Nordestinos..abração , Meu e da Esposa….

    Prof.Orlando Ramos, Da Uneal

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