Caldo de Mocotó, uma tradição com mais de 40 anos em Olho D’ Água do Casado
Na movimentada AL 220, ligando os municípios de Delmiro Gouveia e Olho D’Água do Casado, o pequeno empreendimento, ululantemente batizado de Caldo de Mocotó, é parada obrigatória. Ali se saboreia, ao longo de mais de 40 anos, uma receita simples e de sucesso líquido e certo. Além do caldinho, a casa disponibiliza cachaças preparadas com cascas das árvores da região e, de quebra, um bom café forte.
Aviso aos viajantes: não é um simples caldinho de mocotó, é o melhor de Alagoas. Existe um ritual para beber o caldo preparado, com esmero, por Dona Maria Aparecida Maciel. No balcão, quem ensina o passo a passo do modo de saborear o dito cujo, é o esposo da Maria, Antônio Silva. Primeiro ele entrega um ovo cozido e pede para o cliente descascar e, em seguida, o esmagar com o auxilio da colher no pequeno prato fundo de alumínio; finalmente é adicionado o caldo bem aquecido, resultando num um creme substancioso, capaz, como dizem, de levantar “até defunto”.
Fiquei mais feliz porque o produto não é gorduroso e nem tem o aroma do fato. Para preparar a média de 12 litros por dia, o mocotó (pé de boi) é lavado, escaldado e depois cozido apenas na água. O osso e o tutano (gordura) são descartados. Fica apenas a cartilagem que é triturada e cozida com tomate, cebola, pimentão, alho, coentro, pimenta, batata inglesa e cenoura. Todos os ingredientes seguem de novo para o liquidificador até virar um senhor Caldo de Mocotó encorpado e bem temperado.
Como o ovo machucado foi parar na fórmula? Antônio Silva explica. No primeiro endereço do boteco, em Olho D´ Água do Casado, o pão francês integrava o cardápio do caldo, mas quando mudaram para rodovia, como não existe padaria por perto, algo foi necessário para substituir esse componente. Assim, o ovo adicionou um novo capitulo na história daquele precioso líquido no Sertão. Detalhe: os fregueses mais antigos, saudosos, trazem o pão para manter a tradição.
Detalhe: o caldo é R$ 3,00, e cada ovo custa R$ 1,00.
Enquanto entrevistava Antônio e Maria Aparecida, foram chegando os fiéis clientes, e alguns pediram: “Bota uma misturada”, ao que seu Antônio retrucou: é a batizada ou arrebenta a calçada? Em seguida colocou o tipo escolhido nos copos. Aí fui entender os significados desses conceitos, referentes às diferentes espécies de ervas e lascas de árvores usadas para curtir a cachaça. Aromáticas e fortes, de fato, “quebram paredes”.
História
Antônio Silva é aposentado, depois de trabalhar como caminhoneiro durante décadas. Transportava cavalos de corrida de São Paulo para várias cidades brasileiras. Ele não tem saudades das estradas, curte a vida ao lado de sua amada Maria Aparecida e sua prole de seis filhos, doze netos e dois bisnetos. “Domingo e Carnaval não abríamos, é dia de viver com família”, diz o simpático casal.
O caldo, na realidade um creme de mocotó com legumes, recebeu elogios do chef André Generoso (Divina Gula) em sua viagem recente na cidade de Piranhas. Esse Caldo de Mocotó, sem dúvida, um momento de felicidade ao paladar e mais um cartão postal gastronômico do Sertão Alagoano.
Rota Caldo do Mocotó
Preço do caldo- R$3,00 / Ovo R$ 1,00 – Não aceita cartão
AL 220, ligando os municípios de Delmiro Gouveia e Olho D’Água do Casado
Funciona de terça a sábado, das 5 até 17horas
Telefone: 98893.1388
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