Toda segunda-feira, logo cedo, Água Branca, cidade do Sertão alagoano, realiza sua tradicional feira. Farta também em cores, ali se vende de tudo, como chocalhos usados para bois de todos tamanhos, e até o colar de coco de Ouricuri, que lembrou a minha infância. Não resisti, comprei e coloquei a fieira de coquinhos no pescoço… claro, durou pouco, comi todos.
A cidade histórica é uma graça. No centro urbano estão a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Igrejinha do Rosário, e um dos mais importantes cartões postais: o sobrado do Barão de Água Branca, Joaquim Antônio de Siqueira Torres, embora numa antecipação da força feminina, o casarão passou a história como a casa da Baronesa de Água Branca, basicamente por dois motivos: ela ter sido mais longeva que ele; e ela ter sido, na condição de idosa viúva, vítima do primeiro assalto de vulto realizado por Lampião. Pois, no ano de 1922, a residência recebeu a visita do Rei do Cangaço e o patrimônio pessoal da antiga nobre sertaneja foi aliviado de incontáveis joias e dinheiro.
Visitar a histórica de Água Branca tem seus encantos a qualquer tempo. Mas, no inverno, é melhor ainda. Fica tudo verde, florido, o clima esfria ao ponto de ofertar uma aconchegante neblina. Os sabores também fascinam e minha dica é o restaurante Aconchego, o melhor lugar para saborear frutos do mar em pleno Sertão. Com ênfase para tilápia (peixe do Rio São Francisco) empanada preparada no capricho pela simpática Aparecida Barros, a célebre Cida, neta da baronesa Joana Vieira Sandes, a viúva do Joaquim e primeira vítima famosa de Virgulino, como escrevi no parágrafo anterior.
“Compramos a tilápia aqui mesmo, em Água Branca, o produto é abundante. Já camarão e siri vêm de Maceió”, conta Aparecida, professora aposentada, também culinarista de mão cheia, especialistas em bolos e doces. Para ela, cozinhar é um ato de amor. De fato, por exemplo, a tilápia empanada é apaixonante. Casquinha crocante, peixe macio e suculento na medida certa.
Também merece aplausos o purê de batatas, bem fofo (na composição leva manteiga e um pouco de leite natural – produzidos nas pequenas propriedades rurais da região). Divino, como se fazia antigamente.
As fritadas são estrelas do Aconchego e a de siri é a mais pedida. Provei a de camarão. Na receita, além de bater os ovos em ponto de neve, Cida adiciona um pouco de farinha de trigo, lembrando uma torta salgada.
A casquinha de siri é muito elogiada. Oriunda do município de Marechal Deodoro, a carne do crustáceo é misturada com legumes e leva um pouco de tempero caseiro. A receita também segue a tradição alagoana, recebendo uma leve camada de ovos batidos sobre a mistura.
A Cida é nascida e criada em fazenda. Sempre gostou de cozinhar e, em busca de sua independência, aos 12 anos já fazia bolos para vender na porta de casa às segundas-feiras, o dia da feira da cidade. Além de professora, cursou arte culinária e aperfeiçoou o talento.
Valdinez Felix, o Val, é marido de Cida e parceiro responsável pelas compras do restaurante e pela administração do empreendimento. Mas o maceioense jura de pés juntos que, como filho de índios, foi ele quem ensinou a ela as receitas dos pescados. Perguntei a Cida se a informação procedia, e ela apenas sorriu. O casal, hoje aposentado de suas profissões iniciais, estendeu para a cozinha uma enorme dose de felicidade e harmonia que, graças ao Aconchego, compartilha com a gente.
Cida e Valdinez, só tenho a agradecer a vocês, e da próxima vez vou provar o carneiro!
Rota Aconchego
Preço: de R$30,00 até 80,00 (pratos para duas pessoas) aceita cartão
Funciona de terça a quinta das 10 até as 1oh30 as 15h30e das 18h30 até as 22h / domingo até as 16h / Segunda-feira sob consulta
Rua Cônego Nicodemos, 7 – Centro de Água Branca (próximo a Igreja do Rosário) – telefone: (82) 3644.1237
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5 comentários
Carolina Feitoza
9 anos Atrás
Parabéns Aparecida, minha eterna Tia Aparecida, pois fui aluna do pré escolar. Já tive a oportunidade de provar muitos de seus pratos desde a infância e agora em seu Aconchego,todos deliciosos.Mas devo ressaltar que seus bolos ficaram em minha memoria infantil. Sucesso. Carolina.
GILSON BEZERRA
9 anos Atrás
PURA VERDADE.AGUA BRANCA É ISSO E MUITO MAIS. TEMOS OS ENGENHOS DE RAPADURA E AS CASAS DE FARINHA E AS FONTES .
JOÃO MIGUEL TORRES BARROS
9 anos Atrás
SOU LEITOR DIÁRIO DO SEU BLOG. E VOCÊ FALANDO DESSA TERRA QUE FAZ PARTE DA MINHA VIDA, ÁGUA BRANCA, TERRA DE MINHA SAUDOSA MÃE, FALANDO DO MEUS BISAVÓS E AINDA MAIS DA QUALIDADE DA COMIDA DA NOSSA AMIGA APARECIDA. SOMENTE TENHO QUE LHE MAIS UMA VEZ OS PARABÉNS POR BELA REPORTAGEM CULINÁRIA E CULTURAL
Ivana Vieira
9 anos Atrás
Bom dia, Nide!
Passando pra lembrar o caldinho na Ponta verde, da Andréa e do Luiz; eles já estão de sobreaviso.
Boa semana.
Nide Lins
9 anos Atrás
AUTORLegal, Ivana, assim que poder aviso, é que até o dia 15 estou viajando nos finais de semana.