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Pitus, a glória do Rio São Francisco

Pitu na água e sal, patrimônio da culinária do Rio São Francisco na Churrascaria Cristo Redentor em Pão de Açúcar, sertão alagoano

Pitus, patrimônio do Rio São Francisco no restaurante Cristo Redentor em Pão de Açúcar, sertão alagoano

Numa reportagem sobre a cidade de Piranhas, dona Gilda Correia Nunes lembrou que na sua infância e adolescência havia pitu de fartura na região. “A gente comia até no café da manhã”, recorda-se, com saudades dos bons tempos do nosso rio São Francisco. Eu também fiquei nostálgica com a história, e lembrei que o meu sonho era comer uma pituzada tradicional, cozida na casca com água e sal. Pra minha felicidade, saboreei o crustáceo sob as bênçãos do Cristo em Pão de Açúcar.

A pesca do pitu passou bom tempo proibida, para que a espécie tivesse oportunidade de sobreviver e se reproduzir no Velho Chico. Felizmente, a partir de março deste ano a pesca foi liberada pelo Ibama. Com aval das autoridades, aproveitei minha viagem ao povoado da Ilha do Ferro em Pão de Açúcar e fui comer uma boa pituzada na Churrascaria Cristo Redentor que, apesar do nome, é uma casa  especializada em pescados do Rio São Francisco. É a glória.

Tradicional pituzada com pirão do caldo do crustáceo da água doce

Tradicional pituzada com pirão do caldo do crustáceo da água doce

Os pitus podem ser servidos como filé ou na casca, mas, claro, eu prefiro eles vestidos porque produzem mais sabor ao pirão e ao próprio crustáceo. Estava uma belezura, carne suculenta, tempero na medida certa. A tradição é saborear o crustáceo da água doce no casco e sem cerimônias, ou melhor, deixe a etiqueta de lado – pegue o bichinho com a mão para sugar o caldo temperado com tomate, cebola, coentro, pimentão, pimenta e sal.

Mas antes de iniciar o ritual da pituzada, o dono do empreendimento, Milton Lopes, me sugeriu petiscar “torresmo de peixe”. Impossível recusar a oferta. Perguntei como seria o tal do torresmo e ele me explicou que o tira-gosto é feito com o couro da tilápia e do pacu, temperado apenas no sal e frito no óleo bem quente, ficando enroladinho e crocante.

Simplicidade: torresmo de peixe feito com couro da tilápia e pacu no Cristo Redentor, Pão de Açúcar

Simplicidade: torresmo de peixe feito com couro da tilápia e pacu no Cristo Redentor, Pão de Açúcar

“Compro o peixe tilápia e faço os filés no restaurante, são cinco quilos do peixe para render um quilo de filé, então transformei o couro em petisco”, diz Milton. Torresmo de peixe aprovadíssimo, apenas recomendo que peça para maneirar no sal, e, claro,  cerveja hiper gelada, afinal é Sertão.

O filé de tilápia também está presente na Churrascaria Cristo Redentor, na versão de almoço e petisco. E há outras iguarias do rio, como a piaba branca e a bisteca de peixe, o que significam mais um motivo pra voltar a Pão de Açúcar.

Peixe robalo do Rio São Francisco do Cristo Redentor, nota 10

Peixe robalo do Rio São Francisco do Cristo Redentor, nota 10

Quem comanda a cozinha do Cristo é Júlia Lopes, uma simpática senhora, que faz muito bem a culinária tradicional do rio. Há 14 anos, junto a seu esposo Milton, eles administram a churrascaria, mas antes tiveram um bar batizado de Redondo. De cozinha, asseguro que o casal entende bem.

Cristo Redentor é o cartão postal de Pão de Açúcar e, coincidentemente, do lado sergipano do município tem a cidade de Niterói. Além de se comer bem os pescados do rio, se tem a mais bela vista do São Francisco que, apesar de agonizar, continua lindo, doce e generoso. Para ajudar a salvar esse nosso patrimônio, podemos começar de uma maneira simples: não jogando lixo em suas águas. O nosso Velho Chico agradece.

Júlia, dama da coziha do Rio São Francisco e seu  esposo Milton Lopes, há 14 anos comandam os sabores do Cristo

Júlia, dama da cozinha do Rio São Francisco e seu esposo Milton Lopes, há 18 anos comandam os sabores do Cristo

Roteiro Churrascaria Cristo Redentor

Preços: Pituzada pequena – R$ 40,00 – Aceita cartão (mais depende do sinal da internet. Por garantia leve dinheiro)

Funciona todos os dias das 10h até 19h

Telefone: 99942.9103

A pesca do pitu passou bom tempo proibida, para que a espécie tivesse oportunidade de sobreviver e se reproduzir no Velho Chico

A pesca do pitu passou bom tempo proibida, para que a espécie tivesse oportunidade de sobreviver e se reproduzir no Rio São Francisco. Desde março a pesca foi liberada pelo Ibama

Arquivo: Canoa de Tolda (patrimônio da cidade de Piranhas) navegando pelo Velho Chico e o Cristo Redentor em Pão de Açúcar

Canoa de Tolda (patrimônio da cidade de Piranhas) navegando pelo Velho Chico e o Cristo Redentor em Pão de Açúcar

 

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4 comentários
  • Ricardo de Arroxellas Costa
    9 anos Atrás

    “Antigamente” era fartura de pitú, em toda Bodega tinha…..

  • jobson
    9 anos Atrás

    Deveria proibir também pescar os filhotes, encontrei um pescador vendo filhote, convenci que pescando antes que o filhote desova vai acabar com a espécie, O peixe agulha necessita de fiscalização, o pescador não leva a sério o tamanho do pescado

  • Marcelo Costa
    9 anos Atrás

    Nide você faz história em Alagoas, estas suas abordagens da nossa culinária repercute muito.
    Moro em Minas, sou peão, mas logo estarei aí para comer a buchada lá perto do CRB, e este pirão de Pitú que dá água no gorgomilho..Em dia ; sou da Laje.
    Abração!

    • Nide Lins
      9 anos Atrás
      AUTOR

      bem vindo, sempre, marcelo

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